O relatório do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) caiu como uma bomba para
o governo de Jair Bolsonaro. Segundo o COAF, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro,
Fabrício José Carlos de Queiroz, teve movimentações bancárias suspeitas entre
2016 e 2017, incluindo transferência bancária no valor de R$ 24.000,00 para a
primeira-dama Michele Bolsonaro.
O caso
repercutiu de forma muito negativa e os desdobramentos das apurações indicaram
outras possíveis irregularidades envolvendo assessores de Flávio Bolsonaro.
Apesar de Flávio e Jair Bolsonaro não estarem sendo investigados, o prejuízo
político é enorme, pois muitos eleitores votaram no candidato do PSL
acreditando que haveria uma mudança na política brasileira. Porém, antes mesmo
de começar o mandato, Jair Bolsonaro já possui seu nome envolvido com
corrupção, afetando sua credibilidade e o crédito que possui com a população.
Além de
atingir a família Bolsonaro, o relatório do COAF também impacta diretamente o
destino de membros importantes do futuro governo.
Onyx
Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, pode ser o primeiro a sentir os
impactos diretos do relatório do COAF por já ter chegado ao governo envolto com
problemas de corrupção. Ao ser indagado por jornalistas sobre o relatório do
COAF, o futuro ministro disse que querem destruir a reputação de Jair Bolsonaro
e perguntou onde o COAF esteve durante o Mensalão. Apesar de não saber, o COAF produziu
mais de 30 mil relatórios de inteligência que foram utilizados do Mensalão a
Lava-Jato. Dias depois, Onyx Lorenzoni defendeu a investigação do caso.
Pelo fato de
ser um ministro previamente envolvido em corrupção, os dias de Onyx Lorenzoni na
equipe de Bolsonaro podem estar contados. Com todo o passado pesando contra si,
Onyx é a escolha mais fácil de Jair Bolsonaro para dar uma resposta para a
opinião pública que começa a ver seu governo com desconfiança.
Um pilar
importante do governo é Sérgio Moro que, apesar de defender Onyx Lorenzoni, ainda
goza de enorme prestígio com população brasileira. Entretanto, quando foi
perguntado sobre o COAF em um primeiro momento, Sérgio Moro fugiu da pergunta,
retornando alguns dias depois para dizer que não é a função dele opinar e nem
apurar o caso. A opinião pública cobrou posição do antigo juiz, muito por conta
do discurso anticorrupção entoado por ele mesmo. Para agravar a situação, o
COAF será de sua responsabilidade em 2019, ameaçando a reputação do pilar de
sustentação mais importante de Jair Bolsonaro.
Outro pilar
importante é Paulo Guedes porque o bom desempenho do governo passa pelas
reformas econômicas propostas por ele. Por conta de uma infecção contraída no
início do caso COAF, Paulo Guedes não declarou nada sobre o assunto.
Entretanto, com a redução do apoio popular que o caso COAF pode causar, Paulo
Guedes poderá enfrentar dificuldades para aprovar as reformas que julga
necessárias para a retomada econômica brasileira, prejudicando assim o seu
trabalho.
A deputada
federal eleita Joice Halssemann pode se beneficiar do atual momento conturbado
do clã Bolsonaro para assumir a liderança do partido na Câmara. Apesar de não
ter se manifestado publicamente sobre o COAF, Joice trocou farpas com Eduardo
Bolsonaro na disputa pelo poder dentro do PSL e o enfraquecimento da família a
fortalece politicamente.
Outro membro
importante do governo é o General Augusto Heleno. Em entrevista com o jornalista
Pedro Bial, o futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional
relativizou o relatório do COAF e disse acreditar que Bolsonaro não será atingido
pelo fato do valor de R$ 24.000,00 ser irrisório e, da mesma forma feita por
Onyx Lorenzoni, ironizou a atuação do COAF nos últimos anos.
Diferentemente
de Heleno, o general Mourão teve uma posição mais incisiva. Em diversas
entrevistas, Mourão cobrou esclarecimentos sobre o dinheiro e disse que o caso
provoca incômodo no governo, indo além ao dizer que, se houve “caixinha, foi
uma burrice ao cubo”. Mourão afirmou ter confiança em Jair Bolsonaro, uma fala
estranha por um vice afirmar que confia em seu superior. Para o
vice-presidente, a justificativa de Bolsonaro dá o assunto como encerrado,
entretanto, disse para a imprensa investigar o caso. A cada dia, o prestígio de
Mourão cresce.
Por fim, há um
personagem bônus que se beneficiou do caso COAF. Trata-se de Renan Calheiros,
senador eleito pelo MDB, que buscava novamente a presidência do Senado e tinha
Flávio Bolsonaro como um empecilho. Com o COAF, Flávio iniciará desgastado seu
mandato e já recebeu ameaças de assessores de Renan dizendo que o mandarão para
o conselho de ética se continuar minando a candidatura do alagoano. O caminho
para o quarto mandado de Renan Calheiros como presidente foi facilitado.
As cartas
estão na mesa do jogo político. Para sabermos os resultados concretos do
relatório do COAF, precisaremos aguardar um pouco mais.
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