sábado, 15 de dezembro de 2018

O impacto do COAF para os membros do governo Bolsonaro



O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) caiu como uma bomba para o governo de Jair Bolsonaro. Segundo o COAF, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício José Carlos de Queiroz, teve movimentações bancárias suspeitas entre 2016 e 2017, incluindo transferência bancária no valor de R$ 24.000,00 para a primeira-dama Michele Bolsonaro.

O caso repercutiu de forma muito negativa e os desdobramentos das apurações indicaram outras possíveis irregularidades envolvendo assessores de Flávio Bolsonaro. Apesar de Flávio e Jair Bolsonaro não estarem sendo investigados, o prejuízo político é enorme, pois muitos eleitores votaram no candidato do PSL acreditando que haveria uma mudança na política brasileira. Porém, antes mesmo de começar o mandato, Jair Bolsonaro já possui seu nome envolvido com corrupção, afetando sua credibilidade e o crédito que possui com a população.

Além de atingir a família Bolsonaro, o relatório do COAF também impacta diretamente o destino de membros importantes do futuro governo.

Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, pode ser o primeiro a sentir os impactos diretos do relatório do COAF por já ter chegado ao governo envolto com problemas de corrupção. Ao ser indagado por jornalistas sobre o relatório do COAF, o futuro ministro disse que querem destruir a reputação de Jair Bolsonaro e perguntou onde o COAF esteve durante o Mensalão. Apesar de não saber, o COAF produziu mais de 30 mil relatórios de inteligência que foram utilizados do Mensalão a Lava-Jato. Dias depois, Onyx Lorenzoni defendeu a investigação do caso.

Pelo fato de ser um ministro previamente envolvido em corrupção, os dias de Onyx Lorenzoni na equipe de Bolsonaro podem estar contados. Com todo o passado pesando contra si, Onyx é a escolha mais fácil de Jair Bolsonaro para dar uma resposta para a opinião pública que começa a ver seu governo com desconfiança.

Um pilar importante do governo é Sérgio Moro que, apesar de defender Onyx Lorenzoni, ainda goza de enorme prestígio com população brasileira. Entretanto, quando foi perguntado sobre o COAF em um primeiro momento, Sérgio Moro fugiu da pergunta, retornando alguns dias depois para dizer que não é a função dele opinar e nem apurar o caso. A opinião pública cobrou posição do antigo juiz, muito por conta do discurso anticorrupção entoado por ele mesmo. Para agravar a situação, o COAF será de sua responsabilidade em 2019, ameaçando a reputação do pilar de sustentação mais importante de Jair Bolsonaro.

Outro pilar importante é Paulo Guedes porque o bom desempenho do governo passa pelas reformas econômicas propostas por ele. Por conta de uma infecção contraída no início do caso COAF, Paulo Guedes não declarou nada sobre o assunto. Entretanto, com a redução do apoio popular que o caso COAF pode causar, Paulo Guedes poderá enfrentar dificuldades para aprovar as reformas que julga necessárias para a retomada econômica brasileira, prejudicando assim o seu trabalho.

A deputada federal eleita Joice Halssemann pode se beneficiar do atual momento conturbado do clã Bolsonaro para assumir a liderança do partido na Câmara. Apesar de não ter se manifestado publicamente sobre o COAF, Joice trocou farpas com Eduardo Bolsonaro na disputa pelo poder dentro do PSL e o enfraquecimento da família a fortalece politicamente.

Outro membro importante do governo é o General Augusto Heleno. Em entrevista com o jornalista Pedro Bial, o futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional relativizou o relatório do COAF e disse acreditar que Bolsonaro não será atingido pelo fato do valor de R$ 24.000,00 ser irrisório e, da mesma forma feita por Onyx Lorenzoni, ironizou a atuação do COAF nos últimos anos.

Diferentemente de Heleno, o general Mourão teve uma posição mais incisiva. Em diversas entrevistas, Mourão cobrou esclarecimentos sobre o dinheiro e disse que o caso provoca incômodo no governo, indo além ao dizer que, se houve “caixinha, foi uma burrice ao cubo”. Mourão afirmou ter confiança em Jair Bolsonaro, uma fala estranha por um vice afirmar que confia em seu superior. Para o vice-presidente, a justificativa de Bolsonaro dá o assunto como encerrado, entretanto, disse para a imprensa investigar o caso. A cada dia, o prestígio de Mourão cresce.

Por fim, há um personagem bônus que se beneficiou do caso COAF. Trata-se de Renan Calheiros, senador eleito pelo MDB, que buscava novamente a presidência do Senado e tinha Flávio Bolsonaro como um empecilho. Com o COAF, Flávio iniciará desgastado seu mandato e já recebeu ameaças de assessores de Renan dizendo que o mandarão para o conselho de ética se continuar minando a candidatura do alagoano. O caminho para o quarto mandado de Renan Calheiros como presidente foi facilitado.

As cartas estão na mesa do jogo político. Para sabermos os resultados concretos do relatório do COAF, precisaremos aguardar um pouco mais.



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