quinta-feira, 21 de maio de 2015

Quem é o rival do Corinthians?

Depois do fatídico episódio do 7 a 1 sofrido contra a Alemanha na Copa do Mundo de 2014, muito foi alardeado sobre mudanças no futebol brasileiro. Jornalistas esportivos, que se dizem especialistas, apontam o calendário das competições como foco da mudança, outros afirmam a salvação nas categorias de base dos clubes, enquanto outros argumentam que os problemas estão na forma como os clubes de futebol administram suas finanças. Entretanto, o futebol brasileiro só mudará quando a visão sobre o que é o futebol mudar.

Quando um torcedor do Corinthians é questionado sobre qual é o grande rival da equipe, ele irá dizer o Palmeiras, outros o Santos e outros o São Paulo. Para o torcedor, apaixonado pelo seu time do coração, tal resposta é aceitável. Porém, na visão do dirigente do Corinthians, a maior rivalidade corintiana não deve ser vista como sendo o Palmeiras, ou o Santos e muito menos o São Paulo.

O maior rival do Corinthians não é o Palmeiras, mas sim o filme dos Vingadores; não é o São Paulo, mas sim o canal Telecine; não é o Santos, mas sim o shopping center; não é o Flamengo, mas sim o restaurante italiano; não é o Cruzeiro, mas sim o passeio no Parque Ibirapuera com a família. Ou seja, os maiores rivais do Corinthians, e de todos os times de futebol, são todas as outras opções que possam fazer com que o torcedor não assista ao jogo, seja no estádio ou na televisão.

A visão da competição deve migrar do "dentro de campo" para o "fora de campo", pois não existe consumidor mais fiel do que o torcedor. Se o Corinthians perder para o Palmeiras em um jogo, o corintiano não deixará de torcer para o seu clube ou passará a torcer para o Palmeiras, ele continuará sendo fiel ao seu time e não consumirá qualquer produto de outra instituição. Entretanto, tal torcedor pode deixar de consumir os produtos do seu time (camiseta, ingressos para o estádio, exposição na televisão, etc.) caso haja outras opções mais interessantes.

Portanto, o futebol é uma forma de entretenimento e compete com todas as outras formas de entretenimento. Um torcedor corintiano, por exemplo, que deseja ter um bom programa de domingo, pensará em várias opções de divertimento com sua família: ir ao Parque Ibirapuera, ir ao Shopping Eldorado, ir ao cinema ou ir ao estádio assistir ao Corinthians. Para tomar a decisão de em qual lugar ir, o torcedor irá ponderar diversos aspectos (segurança, acessibilidade, preço, conforto, divertimento e duração) até escolher aquele com o melhor nível de experienciação possível.

Consumir futebol é consumir uma experiência e ganhar ou perder faz parte do jogo. O time do torcedor pode até perder, desde que ele tenha tido diversão no processo. A experiência não pode ficar restrita simplesmente na vitória do time, ela precisa ir além. O futebol tem que ser uma opção para um casal de namorados em uma quarta-feira à noite. Tem que ser um programa família no domingo. O torcedor precisa acordar de manhã no domingo e já estar no espírito do jogo, se possível, até mesmo tomar café da manhã no próprio local da partida.

Os clubes precisam prover experiência para os torcedores. Experiência de segurança, de conforto e de diversão. Nesse quesito o Palmeiras tem se destacado. Além de ser uma referência com seu novo estádio multiuso, o time paulistano busca a expansão para o ramo de gastronomia com uma linha própria de cantinas italianas.

O torcedor do Palmeiras, antes mesmo de chegar ao estádio para ver o jogo, já entrará no clima da partida ao almoçar no restaurante do time; também poderá celebrar uma vitória comendo uma boa macarronada após a peleja. Tudo isso é experiência de consumo e os clubes não podem mais dar as costas, pois dar as costas para a indústria do entretenimento, é dar as costas para um segmento que movimenta mais de US$ 70 bilhões ao ano.


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