Fabiano,
pai da família de retirantes da obra, é um ser humano “embrutecido” pela seca.
Da mesma forma que o sertão nordestino, Fabiano é selvagem, bruto, seco de
palavras e cultura, um ser humano animalizado pelo ambiente inóspito que
habita. Para o leitor mais jovem e presente na cultura pop, o raciocínio é o mesmo apresentado por Paulie, personagem dos
filmes Rocky: de tanto tempo que você fica em um lugar, você acaba sendo parte
dele.
O
mal de Fabiano no sertão e de Paulie no açougue onde trabalhava é o mesmo mal
sofrido por Lula e pelo PT. O Partido dos Trabalhadores se envolveu tanto com a
prisão do ex-presidente Lula que acabou ficando preso junto ele.
Após
o término da eleição, integrantes do partido disseram que o PT iria se voltar
totalmente para a campanha “Lula Livre”. Justo motivo de existência para uma estratégia
eleitoral visando 2022. O PT não conseguiu forjar um herdeiro político para
Lula e fortalecer a narrativa da prisão injusta do ex-presidente poderá ajudar
o partido com a tarefa.
Entretanto,
quanto mais para dentro da prisão em Curitiba o partido se concentra, mais
envolvido pelo ambiente carcerário o PT encontra-se. Da mesma forma que Fabiano
e Paulie gradativamente foram se transformando nos ambientes por eles habitados,
o PT vai se transformando na própria prisão de Lula, prendendo-se a Lula e
prendendo-se por Lula.
O
perigo da estratégia do partido é o PT se transformar em um preso assim como
Lula.
Nos
primeiros 100 dias do governo Bolsonaro, o partido que elegeu a maior bancada
de deputados em outubro, sendo superado pelo PSL no decorrer do ano, pouco tem
feito e viu seu protagonismo ser ameaçado pelo PDT.
Se
a política hoje é pautada na internet e pela internet, a única ação de grande
repercussão de um parlamentar do partido foi a definição de Zeca Dirceu ao
ministro Paulo Guedes, sendo chamado de “tigrão de pobre e tchutchuca de
banqueiro”. Pouco para um partido que continua sendo o mais importante do país.
Com
relação a Fernando Haddad, segundo colocado nas eleições de 2018, a situação é
ainda pior. Depois da derrota no segundo turno, Haddad sumiu. Era esperado,
pelo menos por mim, que Haddad fosse fortalecer o rótulo de herdeiro de Lula
durante o ciclo eleitoral de 2022.
Fernando
Haddad saiu de um candidato desconhecido, derrotado em primeiro turno na
prefeitura de São Paulo por João Doria, para 45% dos votos em um segundo turno
de eleição presidencial. O caminho para Haddad como líder da oposição ao
governo Bolsonaro parecia claro e óbvio. Entretanto, quem tomou o caminho de
Haddad foi Ciro Gomes.
Enquanto
Haddad está preso na prisão de Lula e do PT, Ciro Gomes está livre percorrendo
o Brasil fazendo oposição a Bolsonaro. O terceiro colocado nas eleições 2018 se
transformou no principal líder da oposição momentaneamente.
A
liberdade de Ciro Gomes contrasta com a prisão de Haddad que parece estar mais
preso do Lula.
A
liberação do STF à entrevistas com o ex-presidente deixam Lula mais livre que o
próprio Haddad e do que o PT. Se Haddad e PT estão praticamente presos a Lula,
o ex-presidente, por outro lado, terá a liberdade para falar o que bem quiser. É
como se o PT e Lula tivessem invertido as suas posições.
Preso
a Lula e a Curitiba, o PT apequena-se e vê seu espaço na oposição ser reduzido
por Ciro Gomes. Pela primeira vez em décadas, o maior partido de esquerda do
país está com sua hegemonia ameaçada.
Ficou muito claro que Lula ficou muito maior do que o PT propriamente dito. Se o partido quiser se manter no espectro político no Brasil, ele precisa criar um herdeiro para o ex-presidente. Se o partido houvesse investido desde o início no Haddad nas eleições, provavelmente teria vencido. Mas não, o PT ficou tão preso em Lula, que quando acordou, já era tarde demais.
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