Na minha ignorância,
sempre questionei os meus amigos musicista sobre o papel do maestro em uma
orquestra. Se os músicos estavam ensaiados e se havia a partitura para ser
seguida, o papel do maestro seria de mera figuração. Toda a minha percepção
sobre os maestros mudou completamente após ver as regências do maestro alemão Knut
Andreas e do maestro brasileiro Parcival Módolo.
Ao ver Andreas e
Parcival regendo, compreendi que o papel do maestro vai para além da simples
coordenação dos artistas e seus instrumentos: ambos eram a conexão entre
plateia e espetáculo. Ao ver Andreas e Parcival regendo, era possível
compreender as emoções da música como se eu estivesse vendo o som além de
escutá-lo. Ambos regiam simultaneamente músicos e público, fazendo-me crer que
o maestro também é o regente da plateia.
Eu desconhecia todo o
processo musical que havia sido realizado durante os ensaios exaustivos da
orquestra. Entretanto, quando era chegado o momento do espetáculo, Andreas e
Parcival apenas apresentavam para o público o melhor de toda a orquestração
planejada minuciosamente, pois se houvesse algo errado, a plateia sentiria.
Presidir um país é como
reger uma orquestra. O presidente faz o papel do maestro e ensaia nos
bastidores seus ministros que irão tocar cada um dos instrumentos ministeriais.
Caso haja algum descompasso no ensaio, o público irá perceber durante o
espetáculo.
Recentemente, o público
notou uma desafinação entre o maestro Jair Bolsonaro e seus músicos mais
importantes. Ao puxar uma nota de IOF maior em resposta ao caixa menor dos
incentivos fiscais ao Norte e Nordeste, Jair Bolsonaro improvisou durante a
apresentação do espetáculo e pegou seu spalla Paulo Guedes de surpresa. Como o
spalla é o responsável pela afinação da orquestra, todos os outros músicos
acabaram tocando desafinados em sintonia com o maestro.
Marcos Cintra,
responsável pelos metais na Secretaria da Receita, optou por seguir seu spalla,
contrariando as ordens do maestro, e se negou a tocar a nota do IOF maior. Onyx
Lorenzoni, talvez o segundo violinista mais importante da orquestra, disse para
o público incrédulo que o maestro havia “se equivocado”.
Outro momento de
desorquestração ocorreu quando Jair Bolsonaro puxou algumas notas de Imposto de
Renda menor em uma afinação diferente. O
maestro acreditou que o spalla Paulo Guedes iria acompanhá-lo nas notas logo no
início do espetáculo. Entretanto, Marcos Cintra nos metais novamente optou por
seguir a afinação inicialmente ensaiada por seu spalla. Segundo Marcos Cintra,
a notas de Imposto de Renda menor deveriam ser tocadas mais para o meio do
espetáculo em um possível segundo ato onde seria interpretada a música da
reforma tributária.
Percebendo o
descompasso entre maestro e músicos, a plateia começou a questionar se aquele
era mesmo o espetáculo que ela havia comprado os ingressos para prestigiar.
Esperando ver um espetáculo de Salieri, o público começou a ouvir um ritmo
musical bem impopular. Músicas com notas de IOF maior ou outros grupos musicais
de impostos em tons maiores não estavam previstos no roteiro do espetáculo
inicialmente programado e vendido ao público geral.
Com tantas notas e tons
diferentes sendo tocados simultaneamente, o público ficou perdido por não saber
quem de fato iria comandar os ritmos do ato da economia. O descompasso nítido
entre maestro e spalla deixou o público inseguro sobre os rumos do espetáculo.
Do lado de fora,
atentos às reações do público estavam os patrocinadores vindos do mercado. Sem
as devidas garantias que a orquestra irá tocar afinada e conforme previsto nos
ensaios da eleição, os patrocinadores poderão se sentir inseguros em investir
em uma orquestra desorganizada. Sem os investimentos dos patrocinadores, o
teatro que abriga a orquestra poderá ficar sem a expansão necessária para a
colocação de mais assentos para os doze milhões de expectadores desempregados.
É possível que a
orquestra esteja fora de sintonia por conta do nervosismo inicial já que é a
primeira vez que maestro e músicos estão se apresentando em um local tão
majestoso e imponente como o Teatro Brasil. O Teatro Brasil é uma casa
grandiosa e belíssima com alguns problemas estruturais que intimidam os mais
despreparados e inexperientes.
Mesmo após o término da
apresentação do espetáculo Governo Bolsonaro, o Teatro Brasil permanecerá
existindo para a próxima orquestra apresentar o seu próprio show. Como gesto de
cidadania e bons costumes, devemos nos lembrar de, ao sair, deixarmos o
ambiente do mesmo modo que o encontramos ou, se possível, melhor.
Professor,
ResponderExcluirParabens pelo artigo.
Como sou musico amador, posso dizer que em uma orquestra é sempre melhor o musico não se destacar do resto da orquestra e obdecer o maestro durante toda a musica.
Professor,
ResponderExcluirParabens pelo artigo.
Como sou musico amador, posso dizer que em uma orquestra é sempre melhor o musico não se destacar do resto da orquestra e obdecer o maestro durante toda a musica.