sábado, 5 de janeiro de 2019

Orquestra do Teatro Brasil


Na minha ignorância, sempre questionei os meus amigos musicista sobre o papel do maestro em uma orquestra. Se os músicos estavam ensaiados e se havia a partitura para ser seguida, o papel do maestro seria de mera figuração. Toda a minha percepção sobre os maestros mudou completamente após ver as regências do maestro alemão Knut Andreas e do maestro brasileiro Parcival Módolo.

Ao ver Andreas e Parcival regendo, compreendi que o papel do maestro vai para além da simples coordenação dos artistas e seus instrumentos: ambos eram a conexão entre plateia e espetáculo. Ao ver Andreas e Parcival regendo, era possível compreender as emoções da música como se eu estivesse vendo o som além de escutá-lo. Ambos regiam simultaneamente músicos e público, fazendo-me crer que o maestro também é o regente da plateia.

Eu desconhecia todo o processo musical que havia sido realizado durante os ensaios exaustivos da orquestra. Entretanto, quando era chegado o momento do espetáculo, Andreas e Parcival apenas apresentavam para o público o melhor de toda a orquestração planejada minuciosamente, pois se houvesse algo errado, a plateia sentiria.

Presidir um país é como reger uma orquestra. O presidente faz o papel do maestro e ensaia nos bastidores seus ministros que irão tocar cada um dos instrumentos ministeriais. Caso haja algum descompasso no ensaio, o público irá perceber durante o espetáculo.

Recentemente, o público notou uma desafinação entre o maestro Jair Bolsonaro e seus músicos mais importantes. Ao puxar uma nota de IOF maior em resposta ao caixa menor dos incentivos fiscais ao Norte e Nordeste, Jair Bolsonaro improvisou durante a apresentação do espetáculo e pegou seu spalla Paulo Guedes de surpresa. Como o spalla é o responsável pela afinação da orquestra, todos os outros músicos acabaram tocando desafinados em sintonia com o maestro.

Marcos Cintra, responsável pelos metais na Secretaria da Receita, optou por seguir seu spalla, contrariando as ordens do maestro, e se negou a tocar a nota do IOF maior. Onyx Lorenzoni, talvez o segundo violinista mais importante da orquestra, disse para o público incrédulo que o maestro havia “se equivocado”.

Outro momento de desorquestração ocorreu quando Jair Bolsonaro puxou algumas notas de Imposto de Renda menor em uma afinação diferente.  O maestro acreditou que o spalla Paulo Guedes iria acompanhá-lo nas notas logo no início do espetáculo. Entretanto, Marcos Cintra nos metais novamente optou por seguir a afinação inicialmente ensaiada por seu spalla. Segundo Marcos Cintra, a notas de Imposto de Renda menor deveriam ser tocadas mais para o meio do espetáculo em um possível segundo ato onde seria interpretada a música da reforma tributária.

Percebendo o descompasso entre maestro e músicos, a plateia começou a questionar se aquele era mesmo o espetáculo que ela havia comprado os ingressos para prestigiar. Esperando ver um espetáculo de Salieri, o público começou a ouvir um ritmo musical bem impopular. Músicas com notas de IOF maior ou outros grupos musicais de impostos em tons maiores não estavam previstos no roteiro do espetáculo inicialmente programado e vendido ao público geral.

Com tantas notas e tons diferentes sendo tocados simultaneamente, o público ficou perdido por não saber quem de fato iria comandar os ritmos do ato da economia. O descompasso nítido entre maestro e spalla deixou o público inseguro sobre os rumos do espetáculo.

Do lado de fora, atentos às reações do público estavam os patrocinadores vindos do mercado. Sem as devidas garantias que a orquestra irá tocar afinada e conforme previsto nos ensaios da eleição, os patrocinadores poderão se sentir inseguros em investir em uma orquestra desorganizada. Sem os investimentos dos patrocinadores, o teatro que abriga a orquestra poderá ficar sem a expansão necessária para a colocação de mais assentos para os doze milhões de expectadores desempregados.

É possível que a orquestra esteja fora de sintonia por conta do nervosismo inicial já que é a primeira vez que maestro e músicos estão se apresentando em um local tão majestoso e imponente como o Teatro Brasil. O Teatro Brasil é uma casa grandiosa e belíssima com alguns problemas estruturais que intimidam os mais despreparados e inexperientes.

Mesmo após o término da apresentação do espetáculo Governo Bolsonaro, o Teatro Brasil permanecerá existindo para a próxima orquestra apresentar o seu próprio show. Como gesto de cidadania e bons costumes, devemos nos lembrar de, ao sair, deixarmos o ambiente do mesmo modo que o encontramos ou, se possível, melhor.


2 comentários:

  1. Professor,
    Parabens pelo artigo.
    Como sou musico amador, posso dizer que em uma orquestra é sempre melhor o musico não se destacar do resto da orquestra e obdecer o maestro durante toda a musica.

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  2. Professor,
    Parabens pelo artigo.
    Como sou musico amador, posso dizer que em uma orquestra é sempre melhor o musico não se destacar do resto da orquestra e obdecer o maestro durante toda a musica.

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